Entrevista

Brasília como referência: modelo de desenvolvimento do CODESE inspira Porto Nacional

Brasília como referência: modelo de desenvolvimento do CODESE inspira Porto Nacional

Leonardo Ávila, presidente do CODESE-DF e padrinho do CODESE-Porto, tem se dedicado ao fortalecimento da governança colaborativa e ao compartilhamento de boas práticas para o desenvolvimento das cidades. Com uma proposta de planejamento estratégico de longo prazo, apartidário e voltado para o bem coletivo, o CODESE (Conselho de Desenvolvimento Econômico, Sustentável e Estratégico) tem se consolidado em diversas regiões do Brasil como um instrumento de articulação entre a sociedade civil, o setor produtivo e o poder público.

Em Brasília, o CODESE-DF já colhe os frutos dessa construção. Fundado em 2017, o Conselho tem promovido um ambiente de diálogo e cooperação que deu origem a políticas públicas consistentes e duradouras. À frente dessa iniciativa está Leonardo Ávila, que hoje apadrinha o recém-criado CODESE-Porto, oferecendo apoio técnico e compartilhando experiências para fortalecer a construção local.

Nesta entrevista, Leonardo Ávila fala sobre a origem do CODESE-DF, os avanços conquistados, o potencial de Porto Nacional e os princípios que sustentam essa nova forma de pensar o desenvolvimento de uma cidade.


  1. Como surgiu o convite para apadrinhar o CODESE-Porto e por que o senhor aceitou essa missão?

O convite surgiu após conversas com o amigo e colega de universidade, Engenheiro Carlos Braga, que manifestou o desejo de contribuir com um trabalho voluntário semelhante em sua cidade, Porto Nacional. Após alguns meses de diálogo, percebi que era um desejo genuíno e verdadeiro. Ao ver a mobilização de importantes segmentos, lideranças e personalidades da cidade, decidi apoiar integralmente a iniciativa, com a transferência de conhecimento e experiências já adquiridas. Aceitei essa missão porque vi nas pessoas envolvidas um grande desejo de transformar para melhor as políticas públicas da cidade. Compartilhar boas práticas é fundamental para ampliar o impacto positivo desse movimento em outras regiões do Brasil.

  1. O que motivou a criação do CODESE-DF e como o senhor se envolveu com essa proposta?

A criação do CODESE-DF, em 2017, foi resultado de um projeto da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), chamado O Futuro da Minha Cidade, que incentiva entidades da construção civil a envolverem a sociedade na elaboração de políticas públicas de médio e longo prazo. Esse trabalho encontrou eco em pessoas comprometidas em estabelecer um espaço permanente de diálogo entre o setor produtivo, a sociedade civil organizada e o poder público do DF. Começamos tendo o CODESE Goiânia como padrinho e, agora, estamos contribuindo com a criação do CODESE-Porto Nacional.

Fui convidado para o CODESE por minha atuação em entidades empresariais e experiência em governança colaborativa. Em 2021, assumi a presidência com o compromisso de liderar esse movimento plural e apartidário, propondo soluções concretas para o desenvolvimento socioeconômico do DF.

  1. Quais foram os principais avanços que Brasília conquistou com a atuação do Conselho?

Desde sua fundação, o CODESE-DF contribuiu de forma decisiva para propostas de políticas públicas estratégicas reunidas no documento O DF Que a Gente Quer, já na segunda versão. O material foi entregue à sociedade em 2022 e aceito por todos os candidatos ao governo.

Destaco o diálogo permanente com o GDF, o trabalho das câmaras técnicas em áreas como mobilidade, segurança, educação, saúde e inovação, além da articulação de parcerias e captação de recursos para projetos prioritários. Essa atuação fortaleceu a cultura do planejamento e da continuidade, independentemente de ciclos políticos.

  1. O senhor acredita que Porto Nacional tem um perfil favorável para esse tipo de planejamento?

Sem dúvida. Porto Nacional tem uma sociedade civil participativa, como já percebi no grupo de trabalho, o que favorece modelos colaborativos de governança. O município reúne condições estratégicas para um plano de médio e longo prazo que respeite sua vocação econômica, seu patrimônio cultural e suas demandas sociais. Com o envolvimento de lideranças locais, interlocução com os poderes constituídos, propostas técnicas, apartidarismo e voluntariado como premissas, Porto pode se tornar referência em gestão democrática no Tocantins.

  1. O CODESE trabalha com planejamento de longo prazo. Como garantir que esse plano seja respeitado mesmo com mudanças políticas?

O grande diferencial do CODESE é atuar como guardião da agenda de médio e longo prazo, blindando o planejamento das oscilações político-partidárias. Isso é possível porque o Conselho é apartidário e independente do governo. Promovemos o engajamento de diversos setores, o acompanhamento sistemático das metas e a atualização constante dos planos. Também buscamos firmar pactos públicos com agentes políticos, garantindo transparência e compromisso coletivo.

  1. Como o envolvimento da sociedade civil e do setor produtivo contribui para o sucesso desse modelo de governança?

A participação da sociedade civil, especialmente do setor produtivo, é a essência do modelo CODESE. Esses atores trazem legitimidade, conhecimento prático e visão plural sobre os desafios da cidade. Ajudam a definir prioridades, propor soluções e cobrar resultados. Esse envolvimento cria um ciclo virtuoso de participação, corresponsabilidade e maior efetividade das políticas públicas.

  1. Que conselho o senhor daria ao CODESE-Porto, que está dando seus primeiros os agora?

Mantenham o foco na construção de consensos, na escuta ativa e na representatividade. Trabalhem com propostas técnicas e de qualidade, sem levar política partidária para os grupos de trabalho — mesmo sabendo que cada um tem suas preferências. Apartidarismo e voluntariado devem ser premissas do Conselho.

O começo é desafiador, mas é essencial ouvir todas as vozes e estabelecer prioridades claras e realistas. A transformação vem com perseverança, diálogo aberto e compromisso com o bem comum.

  1. Para finalizar: que mensagem o senhor deixaria para os moradores de Porto Nacional que acreditam na construção de uma cidade ainda melhor?

Acreditem na força da união e da participação cidadã. Quando a sociedade se organiza em torno de um propósito comum, é possível transformar realidades. Porto Nacional tem potencial para ser exemplo de desenvolvimento sustentável e gestão democrática. O futuro da cidade está nas mãos de cada cidadão comprometido com o coletivo. Sigam em frente com coragem, responsabilidade e esperança!


Nota: A participação voluntária no Conselho pressupõe o apartidarismo na relação com o poder público, mas não impede que o Codesiano tenha interesse político-partidário. Nesse caso, recomenda-se que, havendo participação em governo ou candidatura a cargo público, o mesmo se afaste de cargos ou funções no CODESE.

Texto: Luciana Macedo – jornalista e voluntária do CODESE-Porto