Goiatins

Reviravolta em município do TO: vereadores do PDT são cassados por candidatura fictícia

Composição da Câmara Municipal será alterada após recontagem de votos.

Reviravolta em município do TO: vereadores do PDT são cassados por candidatura fictícia

Uma decisão da Justiça Eleitoral do Tocantins cassou, nessa quarta-feira, 5, toda a chapa proporcional do Partido Democrático Trabalhista (PDT) em Goiatins, no norte do Estado, e anulou todos os votos recebidos pela legenda nas eleições municipais de 2024. Com isso, os dois vereadores eleitos pelo partido perdem os mandatos, e a composição da Câmara Municipal será alterada após recontagem de votos.

A sentença foi proferida pelo juiz Herisberto e Silva Furtado Caldas, titular da 32ª Zona Eleitoral, em resposta a uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) movida pela ex-pré-candidata Ana Cláudia Gomes (MDB), conhecida como Pretinha Borá. Ela acusou o partido de fraudar a cota mínima de candidaturas femininas, exigida por lei, ao registrar uma candidatura fictícia apenas para formalizar a chapa.

Esposa do vice-prefeito era “candidata laranja”, diz sentença

A candidatura apontada como fraudulenta foi a de Carla Eduarda da Silva Campos, esposa do atual vice-prefeito de Goiatins, Zé Américo Filho (PDT). Conforme os autos, Carla não realizou atos de campanha, não produziu material publicitário, não participou de eventos políticos e não pediu votos para si mesma.

Em vez disso, testemunhas relataram que ela e sua família pediram votos publicamente para outro candidato do partido, o vereador eleito Carlos Hamilton Aquino Lima, o Biúla, um dos dois parlamentares cassados. Carla Eduarda teve apenas dois votos — número considerado inexpressivo — e não declarou nenhum gasto de campanha, o que reforçou os indícios de fraude.

O processo também reuniu provas extraídas de grupos de WhatsApp, como o “I love Craolândia”, onde a suposta candidata promovia a candidatura de Biúla. O Ministério Público Eleitoral (MPE) se manifestou favorável à ação, apontando “fortes indícios de simulação” e pedindo a cassação da chapa.

Decisão: todos os elementos de fraude estão presentes

Na sentença, o juiz Herisberto Caldas destacou que todos os requisitos para caracterizar a fraude à cota de gênero estão presentes, conforme definido na Súmula 73 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Segundo a jurisprudência, basta um dos seguintes indícios para configurar fraude: votação inexpressiva, ausência de campanha ou promoção de terceiros. No caso de Goiatins, todos esses elementos foram comprovados.

“Apenas um dos elementos já seria suficiente para configurar o ilícito. Neste caso, todos estão presentes: votação inexpressiva, ausência de atos de campanha e promoção de terceiros”, afirmou o magistrado.

Vereadores perdem mandatos e haverá recontagem de votos

Com a cassação da chapa, os vereadores eleitos pelo PDT, Mosquitim do Povo (652 votos) e Biúla (324 votos), perderam os mandatos. A Justiça Eleitoral determinou a recontagem dos quocientes eleitoral e partidário, o que poderá alterar completamente a composição da Câmara Municipal de Goiatins.

A decisão será publicada no Diário da Justiça Eletrônico (DJE). Embora o PDT ainda possa recorrer ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-TO), a sentença determina que, após o trânsito em julgado, o cartório eleitoral providencie a recontagem de votos e a diplomação de novos vereadores.

O que diz a lei sobre cota de gênero

A cota de gênero é prevista pela Lei nº 9.504/1997, que determina que ao menos 30% das candidaturas nas eleições proporcionais devem ser preenchidas por mulheres. A mesma regra vale para o ree de recursos do Fundo Eleitoral e do Fundo Partidário.

Nos últimos anos, a Justiça Eleitoral tem intensificado a fiscalização contra candidaturas fictícias — as chamadas “candidaturas laranjas” — utilizadas para fraudar a exigência legal, resultando em cassações de mandatos e anulação de votos.

Defesa e manifestação

A ex-pré-candidata Pretinha Borá informou que só irá se manifestar após o trânsito em julgado da decisão. A reportagem também aguarda posicionamento da defesa do PDT, que não respondeu até o fechamento desta edição, mas terá espaço garantido assim que houver manifestação.

Brener Nunes

Repórter

Jornalista formado pela Universidade Federal do Tocantins Assessor de Imprensa do SENAI Tocantins

Jornalista formado pela Universidade Federal do Tocantins Assessor de Imprensa do SENAI Tocantins