Aliança do Tocantins

Fazenda vira alvo do MP por suposta destruição de área de preservação e uso irregular de recursos naturais

A propriedade ocupa cerca de 1.250 hectares.

Bacia do Rio Formoso - Foto: Divulgação Ministério Público do Estado do Tocantins
Bacia do Rio Formoso - Foto: Divulgação Ministério Público do Estado do Tocantins

O Ministério Público do Estado do Tocantins (MPTO) instaurou o Inquérito Civil Público nº 2072/2025 para investigar possíveis irregularidades ambientais na Fazenda Morro Dois Irmãos, localizada no município de Aliança do Tocantins. A propriedade, que ocupa cerca de 1.250 hectares, é acusada de promover a degradação de áreas de preservação permanente (APPs) e utilizar recursos naturais sem as devidas autorizações legais.

A investigação é conduzida pela Promotoria de Justiça Regional Ambiental da Bacia do Alto e Médio Araguaia, sob a responsabilidade do Promotor de Justiça Jorge José Maria Neto. A portaria que formaliza o inquérito foi publicada no Diário Oficial do MPTO em 9 de maio de 2025, e aponta que a fazenda, de propriedade de Marcelo José de Sá Scatambulo, foi autuada pelo órgão ambiental estadual por impedir a regeneração natural de 5,29 hectares de área protegida — o equivalente a mais de sete campos de futebol.

Danos ao meio ambiente

A destruição de APPs configura grave violação ambiental, uma vez que essas áreas são protegidas pela Constituição Federal e por legislações específicas, como o Código Florestal Brasileiro (Lei nº 12.651/2012) e a Política Nacional de Meio Ambiente (Lei nº 6.938/1981). A legislação impõe que essas zonas sejam mantidas intocadas para garantir a preservação dos ecossistemas, a proteção de nascentes, a biodiversidade e o equilíbrio hidrológico da região.

De acordo com o MPTO, além da degradação ambiental, há suspeitas de que a fazenda não esteja regularizada no Cadastro Ambiental Rural (CAR) e utilize recursos hídricos para irrigação sem a devida outorga, o que pode caracterizar uso indevido e sem controle de bens públicos.

O promotor Jorge Neto enfatizou que a intervenção humana em áreas de preservação, sem licença e sem planos de manejo sustentável, coloca em risco o equilíbrio ambiental da Bacia Hidrográfica dos rios Araguaia e Formoso, duas das mais importantes do estado.

Medidas previstas e possíveis consequências

O MPTO estuda a possibilidade de firmar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com os responsáveis pela propriedade, como forma de obrigá-los a promover a recuperação ambiental das áreas degradadas e regularizar a situação documental da fazenda. No entanto, o órgão deixa claro que não aceitará qualquer acordo que valide condutas irregulares ou minimize os danos causados ao meio ambiente.

A promotoria também esclarece que, caso não haja acordo ou se as irregularidades forem confirmadas em sua totalidade, os responsáveis poderão sofrer sanções civis, istrativas e até criminais, com a exigência de ressarcimento por danos ambientais e suspensão de atividades que estejam em desacordo com a legislação vigente.

Repercussões no setor agroindustrial

A investigação sobre a Fazenda Morro Dois Irmãos reacende o debate sobre a sustentabilidade das práticas agroindustriais no Tocantins, especialmente na região da Bacia do Araguaia, onde a pressão sobre os recursos naturais tem crescido em ritmo acelerado. A área é conhecida por abrigar grandes empreendimentos agrícolas e pecuários, cuja expansão, em muitos casos, não acompanha os critérios técnicos de licenciamento e fiscalização ambiental.

Diante disso, o MPTO avalia ampliar a apuração para identificar eventuais padrões de irregularidades em outros empreendimentos da região, de forma a evitar que o caso da fazenda seja apenas um exemplo isolado de um problema mais amplo.

Com a instauração do inquérito, a Promotoria dará seguimento à coleta de provas, análises técnicas e oitiva de testemunhas. O caso continuará sendo monitorado e poderá gerar desdobramentos significativos, tanto para a fazenda investigada quanto para outras propriedades da região que eventualmente estejam em situação semelhante.

Brener Nunes

Repórter

Jornalista formado pela Universidade Federal do Tocantins Assessor de Imprensa do SENAI Tocantins

Jornalista formado pela Universidade Federal do Tocantins Assessor de Imprensa do SENAI Tocantins